Por Ricardo Festi
Segundo o sociólogo brasileiro Florestan Fernandes (São Paulo, 22 de julho de 1920 — São Paulo, 10 de agosto de 1995), se queremos compreender o contexto em que surgiu a Sociologia, não podemos separar o movimento ocorrido no âmbito das ideias (na filosofia e na ciência, da época do Renascimento até o século XIX) das condições histórico-sociais de existência nas quais a Sociologia se tornou intelectualmente possível e necessária.
“Ela nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais mais complicados das situações de existência nas modernas sociedades industriais e de classes” (Florestan Fernandes)
Essas condições histórico-sociais do século XIX eram fruto de uma profunda revolução social que ocorreu no mundo devido a revolução industrial e o advento da sociedade burguesa e capitalista. Essas transformações sociais moldaram o que entendemos hoje por Modernidade. Assim, podemos definir a sociologia como filha direta da sociedade moderna.
As novas gerações do mundo moderno do século XIX se deparavam com um mundo caótico e em rápida transformação. Imagine o impacto da revolução industrial na vida cotidiana das pessoas. Se você foi capaz de perceber algumas transformações na sua vida cotidiana nestes últimos anos com o surgimento de uma nova tecnologia da informação (exemplo: iPod; iPad; Tablet; Facebook; etc), imagine então o impacto de uma revolução em todos os âmbitos da vida social, como foi a Revolução Industrial. Pense num camponês da Grã-Bretanha no final do século XIX que perdeu suas terras porque elas foram mercantilizadas, ou seja, viraram objeto de lucro capitalista, e o camponês foi obrigado a sair do mundo pacato, lento e tranqüilo do campo para trabalhar na indústria de uma cidade como Manchester.
Essas novas gerações dos séculos XVIII e XIX, que se depararam com um mundo caótico e em rápida transformação, contaram com um conjunto de idéias e teorias constituídas pelos seus antepassados numa luta contra o velho mundo feudal. Elas foram responsáveis ou herdeiras diretas da Revolução Francesa, que derrubou o Velho Regime num processo de mobilização massiva da população.
Usar a razão e a ciência para compreender e transformar o mundo era uma norma entre os principais pensadores desta época. Autores como Saint-Simon, Comte, Proudhon, Le Play, Howard, Malthus, Owen, Marx. “Conservadores, reformistas ou revolucionários, aspiravam fazer do conhecimento sociológico um instrumento da ação” (FF, p. 11).
O efeito deste processo de mudança no âmbito da teoria e do pensamento foi o surgimento da noção de que a vida humana em sociedade está sujeita a uma ordem social. De certa forma, se a fábrica exigia uma inovação permanente das tecnologias, pois necessitava permanentemente renovar o seu maquinário e proporcionar desta maneira melhores condições para competir no mundo capitalista, a venda de seus produtos para o mundo, ou seja, a constituição de um mercado internacional, dava a dimensão de um mundo “conectado” internacionalmente . É nesse contexto que surgiu a Sociologia.
Manchester de meados do século XIX: a oficina do mundo.
“Quando você entra em Manchester, vindo de Rusholme, a cidade que fica na extremidade inferior da estrada de Oxford tem a aparência de um denso volume de fumaça, mais assustador do que a entrada do inferno de Dante (…) Ocorreu-me que, sem ser advertido de antemão, nenhum homem teria coragem de entrar ali”, descreveu o cooperativista George Jacob Holyoake (…) Entre 1800 e 1841, a população de Manchester e da Slford adjacente passou de 95 mil para mais de 310 mil (…) Em 1833, Alexis de Tocqueville, ao visitar a cidade, descreve que, na verdade, ouvira Manchester antes de vê-la, pois nenhum visitante escapava “das rodas esmagadoras das máquinas, do guincho do vapor das caldeiras, da batida regular dos teares”, e do “barulho das fornalhas”. Dentro daquela cidade irregular, ele encontrou “águas fétidas e lamacentas, manchadas com mil cores pelas fábricas por onde passam”. No entanto, “desse esgoto pútrido flui a maior das correntezas da indústria humana, que fertiliza o mundo inteiro. Desse esgoto pútrido flui ouro puro”.
(HUNT, T. Comunista de Casaca: a vida reolucionária de Friedrich Engels)
O pai da Sociologia?
Auguste Comte (1789 – 1857) foi o primeiro pensador a formular questões que não podiam ser respondidas pelo senso-comum ou pela Filosofia Pré-científica ou Física Social. Suas perguntas foram: “O que é ordem social? Como ela se constitui? Como ela se mantém? Como ela se transforma?”. Depois destas perguntas, muitos outros
questionamentos sobre o mundo vieram: sobre a pobreza, os movimentos sociais, as instituições políticas, as crenças religiosas, as sociedades originárias…
Para ilustrar a discussão que fizemos em sala sobre ciência e neutralidade e, especificamente, sobre os dilemas de Darwin na publicação de sua teoria, recomendo este filme:
Muito bom seu texto,tu consegues interligar a sociologia atual com a passada antigamente,parabéns.
Festi,
gostei muito do seu texto, faz uma boa interligação entre nossas disciplinas, mostrando como tudo está interligado.
grande abraço,
Márcia – profª de Biologia
Olá professor, como vai? (:
Estou desenvolvendo algumas idéias sobre o pensamento de Darwin, inclusive lendo o seu livro “A origem das espécies”… Fiquei muito curioso para assistir este filme que você indicou sobre ele; assim que eu assistir, comento com você o que achei do filme.
Até mais ;*